Do ateliê da criadora carioca saem peças produzidas com a expertise da alta costura e o olhar muito brasileiro que – talvez por isso mesmo – cruza fronteiras do país e agrada clientes internacionais. São mulheres de bom gosto, anônimas, socialites, “noivas que querem vestir Patrícia Viera”, ou celebridades – entre elas, Elisabeth Hurley e Lady Gaga, cujo stylist assistiu a um dos desfiles da marca e, ao final, entrou em contato para os pedidos.
“Tudo foi acontecendo naturalmente com a marca”, diz a designer, que vende há tempos para os Estados Unidos. A Barneys, aliás, foi o ponto de partida, desde que o consultor de moda inglês Robert Forrest não só apresentou Patrícia e suas criações à rede norte-americana como a convenceu de que a exportação era o seu perfil e o melhor caminho.
Fotos: Divulgação
Ele acertou. Desde então, não pararam mais as vendas para os EUA e também para Europa e o Japão, com show-rooms sempre concorridos. “Nas apresentações em Paris, sempre fomos prestigiados com a presença de Mario Testino, fotógrafo premiado, amigo querido”, comenta a criadora.
Do ateliê e da fábrica, bem instalados em solo carioca, as coleções da marca passaram exatos quatro anos sendo comercializadas exclusivamente no mercado internacional. Mas tinha chegado a hora de olhar com especial cuidado e interesse para o Brasil, berço da criação, fonte de inspiração, e assim conquistar de vez o território verde-amarelo.
Altos voos
Foi por meio dos show-rooms em Paris que a brasileira Eliana Tranchesi, proprietária da Daslu e fiel representante do comércio de luxo no Brasil, trouxe a marca Patrícia Viera para o país. “Entrei no Brasil pela Daslu”, conta a designer e empresária, que também produzia peças para outras marcas, pelo sistema chamado private lable.
Era a hora de ganhar o próprio país; como sempre, com muito empenho nos bastidores da criação, no ateliê, na fábrica, na modelagem, na escolha dos materiais, além de muito trabalho em equipe. “Meus colaboradores estão comigo há 23 anos, trabalhamos em conjunto. Quando vem um elogio, faço questão de que chegue a eles, pois estamos juntos, sempre”.
É preciso que seja assim. Patrícia Viera é criadora que voa alto nas ideias e aterrissa quando está diante da linha de produção. “Sou criadora, mas tenho o meu lado forte de gerente de produto, porque sou indústria”.
Hoje, no Brasil, as criações de Patrícia Viera eram encontradas exclusivamente na loja própria do Leblon, no Rio. Ou então em São Paulo: “A única cliente que revende as minhas peças é a paulistana Carolina Faggion. Estou há seis coleções com ela, pois além da perfeita sinergia que temos, ela é uma empresária que tem o poder de adivinhar o sonho das clientes”, talento mais do que essencial pra quem atua na moda, diga-se de passagem…
Mas veio a pandemia, e a operação, que era essencialmente focada na loja física, deu espaço também para o digital.
Efeitos metalizado e de escamas
Resposta on-line
Na linha de produção, esmeradamente instalada no bairro da Penha, no Rio, tudo ia muito bem, até que chegou março de 2020 com o lockdown quase planetário.
A indústria viu planos brecados da noite para o dia. “De repente, a fábrica ficou totalmente vazia: funcionários em casa, confinados, e somente eu e meu marido, que é do financeiro, dentro da fábrica”. Um momento dramático no mundo e, claro, ali também.
Como para outros empresários, o momento foi terrível e decisivo. “Eu literalmente travei”, desabafa, dizendo que colocava nas orações, no Rosário, a mesma intensidade que empenhava na busca de soluções. “Até que meu assistente me perguntou: Patrícia, você vai fazer vendas online? As clientes estão pedindo pelo Instagram”. A resposta, portanto, chegou. “Quando respondi que, naquela hora, eu não tinha cabeça pra me dedicar a essa outra frente, ele me disse que cuidaria de tudo”.
E assim, há pouco mais de um ano, as vendas por meio digital se somaram às da loja física. “Hoje o on-line já representa 30% do faturamento da empresa, com tendência de crescimento, já que esta será a grande estratégia de negócios da marca para 2022”, revela.
Trajetória
São cerca de quatro décadas dedicadas à moda no Brasil. Mas o começo da trajetória foi em Londres, nos anos 1970. Patrícia seguiu os passos das irmãs, Cristina e Andrea, que já estavam na Inglaterra e trabalhavam como modelo. Com a moda no DNA, ela preferiu o ateliê, e trabalhou, de 1975 a 1979, com Sally Mee.
Em férias no Brasil, foi convidada por Mauro Taubman, da Company, para cuidar da linha de calçados da marca. A partir de então, a habilidade com o couro só cresceu, praticamente enveredando por caminhos que unem moda e arte.
Citada duas vezes pelo britânico Business of Fashion (BOF) como uma das 500 pessoas mais influentes na moda, a designer fica feliz com o reconhecimento, mas se mantém focada no que tem pra realizar. Críticas também não têm o poder de abalá-la. “Meu foco continua na criação”.
Suas coleções vêm cheias de inovação a cada temporada. Seja porque o couro é milimetricamente cortado para formar peças com mosaicos coloridos, seja porque o acabamento das peles traz cores e efeitos metalizados. As peças podem vir ainda com delicadas estampas florais ou com motivos de bandanas. Tudo produzido à mão.
Com expertise, a carioca Patrícia Viera une alta cultura à sua “alta costura”, sem faltar o “quê” de brasilidade que marcam as suas criações.
Parece devorê… o efeito é idêntico, do couro sobre tela
Vermelho e preto forma o binômio no modelo com textura trabalhada
O couro pode ser também estampado, comprovando expertise da marca