A indústria têxtil paulista tem potencial a ser trabalhado, com a expectativa de voltar a alcançar a liderança, segundo a experiência e o olhar do presidente do Sinditêxtil-SP, Luiz Arthur Pacheco. Advogado e administrador de empresas, o empresário, em seu segundo mandato, está atento ao desempenho do mercado nacional e internacional – ambos sujeitos a tantas oscilações –, ao mesmo tempo em que persegue, com a força da entidade que preside, metas bem determinadas para que o têxtil do estado de São Paulo siga rumo à inovação e à sustentabilidade. Campanhas que visam incentivar a indústria paulista a diversificar a matriz energética, por uma Energia Limpa, ou a recordar o potencial do setor, por meio do slogan “Têxtil Paulista: vocação para a inovação”, são algumas das atuais ações. Ambas se baseiam em estudos econômicos, de mercado e de gestão, para um bom ambiente de negócios.
Luiz Arthur Pacheco falou com exclusividade para o Moda é Notícia, mostrando otimismo em relação aos planos e metas traçados pelo Sinditêxtil, no ano em que a entidade comemora 90 anos representando o setor em São Paulo.
Por Eleni Kronka

. Luiz Arthur Pacheco, presidente do Sinditêxtil-SP: “Estudamos vocações interessantes que podem ampliar a liderança brasileira, por exemplo, em têxteis técnicos, sob a ótica da inovação e da sustentabilidade. São Paulo – e a indústria têxtil paulista como um todo – pode (e deve) liderar esse processo. Vamos competir para além da guerra de preços… Traremos soluções tecnológicas aplicadas aos têxteis que podem fazer São Paulo voltar a ser protagonista”.
Foto: Sinditêxtil/Divulgação
Moda é Notícia – Qual a avaliação que o senhor faz da indústria têxtil paulista na última década?
Luiz Arthur Pacheco – A indústria, de forma geral, teve bom desempenho na primeira década do século XXI. Após 2010, no entanto, como reação ao subprime (crise financeira que abalou o mercado norte-americano em meados dos anos 2000, com repercussão mundial), não voltou a encontrar o caminho de crescimento duradouro desde então. Sucessivas crises se impuseram, relacionadas ao próprio Brasil. Podemos afirmar que a última década não foi favorável à indústria de transformação, tampouco para o setor têxtil (gráfico 1).

M.N. – Qual foi o impacto da conjuntura nacional sobre os resultados do setor?
L.A.P – Há forte correlação entre o desempenho do PIB e o da indústria como um todo. Nesta relação, também não nos saímos bem. As razões são conhecidas e estão relacionadas à instabilidade político-econômica e o Custo Brasil. A indústria têxtil brasileira, em dez anos, sofreu uma queda de 32%, em termos reais, por diferentes razões (gráfico 2). São Paulo segue a lógica nacional. Mas, nos últimos anos, a guerra fiscal nos fez perder espaço. Tivemos vitórias, especialmente quando nos foi proporcionada uma condição mais simétrica, no que diz respeito ao ICMS. Na pandemia, porém, isto nos foi tirado e ainda não voltamos ao estágio concorrencial anterior. Ou seja, tal como a economia brasileira, o setor recuou na última década.

M.N. – Quais as metas a serem trabalhadas no momento?
L.A.P. – Visamos à retomada da condição de igualdade concorrencial do ICMS, juntamente com a expectativa de que o País volte a crescer. Nesta linha, estamos estudando vocações interessantes que podem ampliar a liderança brasileira, por exemplo, em têxteis técnicos, sob a ótica da inovação e da sustentabilidade. São Paulo – e a indústria têxtil paulista – pode (e deve) liderar esse processo. Isto é, vamos competir para além da guerra de preços… Traremos soluções tecnológicas aplicadas aos têxteis que podem fazer São Paulo voltar a ser protagonista. Concluímos um estudo, realizado juntamente com a Secretaria de Desenvolvimento de São Paulo e que será publicado em breve, mostrando os passos para a evolução nesta liderança, a partir das bases paulistas.
M.N. – O Sinditêxtil e a ABIT têm realizado trabalho permanente junto aos parlamentares, em Brasília, em prol desta indústria. Quais os avanços que o senhor aponta como os mais importantes?
L.A.P. – Podemos começar pela reforma e modernização no âmbito da Legislação Trabalhista. Paralelamente, houve a Reforma da Previdência, que reduz a pressão sobre gastos do Governo. Outro destaque foi a prorrogação do regime de Contribuição Previdenciária sobre Receita Bruta (CPRB), ou desoneração da folha. Tivemos ainda uma ampla agenda junto ao poder público para o enfrentamento aos problemas gerados pela pandemia e, após a intensa campanha de vacinação da população, trabalhamos para aprovação das leis que regulamentaram o retorno ao trabalho presencial.
M.N. – Houve iniciativas no campo dos negócios e da infraestrutura?
L.A.P. – Trabalhamos para a aprovação de temas que otimizem o ambiente de negócio e infraestrutura do País, como a BR do Mar (Programa de Estímulo ao Transporte por Cabotagem) e as novas regras do Pronampe permanente, criado em 2020 com o objetivo de facilitar empréstimos para pequenas empresas, com juros mais baixos e maior prazo de pagamento. Estamos também presentes em pautas focadas na melhora do ambiente de negócio visando à redução do Custo Brasil, como a reforma tributária, em especial a PEC 110, e o Novo Marco do Setor Elétrico.
M.N. – Em que consiste e o que significou, em números para o têxtil, a edição do Acordo de Complementação Econômica nº 72, celebrado entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai (Mercosul) e Colômbia? A indústria têxtil paulista beneficia-se com este recurso?
L.A.P. – O Acordo de Complementação Econômica nº 72 (ACE 72), entre Mercosul e Colômbia, firmado em 21 de julho de 2017, foi internalizado no Brasil pelo Decreto nº 9.230, de 6 de dezembro do mesmo ano. O instrumento entrou em vigor em 20 de dezembro de 2017. De acordo com o governo brasileiro, o ACE 72 tem como objetivo estabelecer uma área de livre comércio entre os países, bem como promover o desenvolvimento, os investimentos recíprocos, a integração física e a cooperação econômica, energética, científica e tecnológica. A partir do entendimento entre os países para os produtos do têxtil e da confecção, o ACE n° 72 determinou preferência tarifária imediata, ou seja, tarifa zero para todos os produtos do setor no comércio bilateral. Esse é o principal ganho do acordo, pois traz mais competitividade para o produto brasileiro no acesso ao mercado colombiano.
M.N. – Qual foi o efeito gerado pelo novo acordo?
L.A.P. – As exportações brasileiras de produtos têxteis e confeccionados para a Colômbia saltaram de 30 milhões de dólares, em 2017, para 80 milhões de dólares em 2021. O estado São Paulo representa parcela relevante das exportações brasileiras do setor para aquele país. Em 2021, o Estado teve uma participação aproximada de 32% nas vendas de têxteis e confeccionados brasileiros para o mercado colombiano (26 milhões de dólares).
M.N. – A participação das indústrias brasileiras na Colombiatex tem ajudado a alavancar negócios na região?
L.A.P. – Sim! A Colômbia é um dos principais destinos das exportações têxteis na América Latina e o setor têxtil e de confecção exportou 72 milhões de dólares para aquele país só em 2021. A feira é um grande potencializador destes números, sendo que na edição de 2022 as empresas brasileiras fecharam 7,7 milhões de dólares em negócios durante o evento. Para os próximos 12 meses, a perspectiva é de mais 63 milhões de dólares em vendas para lá. A Colombiatex é um hub importante para a América Latina. Compradores do Peru, Equador, México, República Dominicana e Estados Unidos, além da própria Colômbia, realizam negócios com as empresas brasileiras durante o evento.
M.N. – De que maneira o Sinditêxtil participa dessas ações relacionadas à presença do Brasil na Colombiatex?
L.A.P. – O Programa Texbrasil apoia empresas no evento há mais de 20 anos e já tem parceria sólida com a feira. Em janeiro de 2020, tivemos nossa maior delegação, com 32 empresas. A pandemia gerou impacto na participação das companhias. Porém, elas retornaram otimistas ao evento presencial. Em janeiro último, 22 empresas de diferentes segmentos expuseram. Em geral, há uma constância na participação, estando entre elas a Canatiba, a Cataguases e a Covolan, presentes anualmente, além da Santanense, Berlan, Cedro e Vicunha, integrantes do grupo desde a chegada do Brasil ao evento.
M.N. – Quais os setores que se sobressaem?
L.A.P. – O denim é sempre destaque brasileiro. Mas nos últimos anos temos visto a presença crescente de empresas com foco no fitness e beachwear, além de acessórios e linhas. O Sinditêxtil colabora com a Colombiatex por meio da parceria de longa data que mantém com a Abit e o Texbrasil, programa criado pela entidade, juntamente com a Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) para incentivar a internacionalização do setor brasileiro.
M.N. – No discurso proferido no evento comemorativo aos 90 anos do Sinditêxtil, o senhor fez menção à campanha voltada à Energia limpa, encabeçada pela entidade. A indústria têxtil paulista já adere às modalidades de energia limpa? Qual o impacto que o componente energia exerce sobre a cadeia produtiva têxtil?
L.A.P. – Ao comemorar seus 90 anos, o Sinditêxtil-SP abraça a questão da sustentabilidade. Optamos por focar no item 7 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 7, Energia Acessível e Limpa). Trata-se de assunto muito importante para o setor que representamos. As empresas do início da cadeia produtiva, que geram insumos para os elos seguintes, são intensivas no uso de energia, ao contrário das empresas do final da cadeia – como as confecções –, que são intensivas no emprego de mão de obra. Vamos explorar o tema ao longo do ano, pois é preciso agilizar a transição para matrizes alternativas. O problema não é uma matriz mais limpa, pois o Brasil recorre majoritariamente às hidroelétricas. A crise climática, a falta de chuvas, impactam drasticamente sobre estes recursos. Se comparado a outros países que não contam com o mesmo potencial hídrico, o Brasil apresenta maior custo energético. Vamos debater alternativas, custos, tributação, mercado eólico, solar e biomassa; comparar preços e prever investimentos. Visitaremos empresas que já fizeram a transição, bem como fazendas solares. Traremos informações necessárias para empresas que formam o setor.
M.N. – Em que consiste e qual a repercussão alcançada pela campanha do Sinditêxtil: “Têxtil Paulista: vocação para a inovação”?
L.A.P. – Lançamos a campanha para invocar o espírito empreendedor dos empresários têxteis paulistas. São Paulo conta com profissionais altamente capacitados e com empresas voltadas à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologia de ponta. Somos o maior polo de negócios do País. Contudo, estamos perdendo competitividade por conta da tributação. Temos, porém, muito a nos orgulhar e a lutar pela liderança no ranking produtivo nacional. A campanha Têxtil Paulista: vocação para a inovação vem para lembrar disso. O objetivo é manter o apoio, lembrando do que a indústria têxtil paulista é capaz. Estamos todos juntos para recuperar a liderança.